Um rico garoto pobre.

            No interior do país, havia uma pequena família simples. Um garoto chamado Júlio, seu pai César, e sua mãe Maria. Era uma família feliz, viviam em uma fazenda, onde criavam bois, galinhas e uma pequena variedade de vegetações. Tudo era para sustento deles. A casa foi criada pelo pai do pai de Maria, que foi passada para seu pai, quando seu avô morreu, e foi passada para ela, quando seu pai morreu. Morreu com bastante sofrimento, um câncer no esôfago descoberto muito tarde, sem chance de tratamento, apenas remédios que tentavam diminuir a dor, a única alegria do fim da vida dele, foi ver seu neto Júlio nascer, ele tocou na mão do neto, que segurou o dedo do Avô forte e não quis mais soltar, nem quando o velho homem fechou os olhos e deu seu último suspiro.   

            Júlio frequentava uma escola no centro da cidade graças a uma bolsa de estudos popular, convivia com garotos com muito mais condição financeira que ele, e enquanto seus colegas levavam hambúrgueres, refrigerantes, Júlio levava uma fruta, geralmente maçã ou banana, e tomava a água do bebedouro da escola. Ele nunca tinha se incomodado com a situação que vivia, até conhecer as pessoas que viviam "melhor" que ele. Era uma terça feira, na terceira semana de aula, Júlio chegou em casa batendo a velha porta de madeira da sua casa, jogando a mochila no chão, e aproveitou que tinha naquele momento a atenção do pai e da mãe e disse:

           -Eu não quero ser pobre mais, não aguento mais levar fruta pra escola, não aguento mais ter que comer o que criamos, não aguento mais vestir essas roupas velhas que mal cabem em mim, não quero mais usar esse tênis todo remendado, eu quero dinheiro, quero comprar um skate, uma bicicleta, eu quero ter uma vida nova, sair dessa casa imunda e caindo aos pedaços, EU NÃO AGUENTO MAIS!
           Um silêncio profundo, tomou conta da sala, Maria e César se olhavam e olhavam para a criança, pensavam no quanto eles deram duro para cuidar dele, o quanto deixaram de comer por causa do filho, o quanto lutaram para que ele pudesse estudar e ter um futuro diferente, mas tinha alguma coisa a mais, César tirou um papel amassado do bolso, pois em cima da mesa e disse:

           -Filho, eu nunca planejei te ver triste, nunca quis te fazer sofrer. Sempre te ensinei os valores de amor e respeito ao próximo que meu pai me ensinou. Meu pai era rico, e podia me dar tudo que eu quisesse, e deu. Eu cresci mimado, me acostumei a ter tudo do meu pai, até que a fazenda dele faliu, e suas terras foram ficando cada vez mais pequenas, até não existirem mais. Meu pai não aguentou o sofrimento, e teve um infarte, minha mãe fugiu com um homem que tinha mais dinheiro. Eu não tinha nada, não tinha onde morar, não tinha emprego, não ia a escola, eu tinha apenas 8 anos de idade, estava largado no mundo sem ter o que fazer. Fui até a cidade grande, fui pedir ajuda na rua, mas o que eu ganhei foi pisões, cuspes, e bons tapas. - Enquanto falava, César desamassava o papel que estava no seu bolso - Eu comecei a pensar em roubar as pessoas pra conseguir o que comer, mas eu lembrei dos valores que o meu pai me ensinou, eu precisava amar e respeitar as pessoas, pra então eu ser um homem de verdade.

           -É esse o futuro que você quer para seu filho? Quer que eu passe o mesmo que você passou?

           Maria pegou o papel desamassado da mesa e entregou para o filho dizendo:

           -Seu pai um dia teve dinheiro, teve uma casa grande, comia do bom e do melhor, era superior a todos os outros garotos, tinha tudo que alguém da idade dele iria querer, mas chegou um momento em que tudo acabou. - O garoto abriu o papel, e viu que era um bilhete de loteria, com uma nota anexada a ele, Júlio arregalou os olhos e abriu a boca sem acreditar no que via, seu pai ganhou 25 milhões de reais.- Seu pai só chegou até aqui hoje, só nos conhecemos um dia, só te fizemos, porque ele entendeu que a vida é muito mais do que dinheiro, bens materiais, ou qualquer coisa que nos dê a chance de ser superior a alguém, o que fez seu pai crescer e construir o que para nós é esse paraíso, nem mesmo esse bilhete pode comprar. São os valores de amor, de verdade, de afeto, de respeito. São os princípios básicos para que um homem cresça de verdade. Ninguém precisa de um novo lugar para te ruma nova vida, muito menos de uma vida nova. Você apenas precisa aplicar em situações novas, os valores que muitas vezes parecem ser velhos. 
          
         O garoto sem palavras e sem reação, saiu da sala. Os seus pais estavam tristes, achando que tinham conversado com seu filho tarde demais, e que o tinham perdido para o capital, olhavam tristes para seu filho que ia para seu quarto de cabeça baixa, mas foram surpreendidos, quando o garoto jogou o bilhete no lixo. E o pai sabia em seu coração, que valia a pena jogar dinheiro no lixo, mas que os princípios nunca devem ser jogados fora.

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